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Quem foi Balaão? Bamidbar 22.2 a 25.9 (Parashá Balak)

´ Balaão era midianita,isto é, descendente de um povo gerado pelo casamento de Abraão com Keturá (Gênesis 25.1). Midian se tornou um...

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Síndrome do Pânico e a Grande Ansiedade de Jó


Segundo os registros do seu livro, Jó, antes da sua derrocada geral, já apresentava sintomas clássicos de uma doença tão antiga quanto o pecado.

E como era a vida de Jó?

Ele era o típico "certinho" e bem sucedido: religioso, rico, influente, com uma bela e unida família, não bebia, não fumava, não traía a mulher...(Jó1.2-3) Devia também ter uma lindíssima casa, desfrutando de todo o luxo e conforto da época.

" ... e este homem era sincero, reto e temente a D'us, e desviava-se do mal." (Jó 1.1)

Extremamente zeloso e rigoroso com a sua vida e com a dos seus filhos, procurava ser temente a D'us por eles também, oferecendo holocaustos por prováveis pecados ocultos da família:

"... enviava Jó, e os santificava, e se levantava de madrugada, e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles; porque dizia Jó: porventura pecaram meus filhos, e blasfemaram de D'us no seu coração. Assim fazia Jó continuamente."(Jó1.5).

Enfim, Jó era o perfeccionista profissional -nada podia fugir ao seu controle- e começou a desenvolver um tipo de ansiedade doentia, típica dos que levam a vida muito feliz: o medo de que alguma coisa ocorra de errado e mude tudo!

Vamos entender os pavores ocultos dele em Jó 3:25-26:

כִּי פַחַד פָּחַדְתִּי
"Porque um medo (receio) que eu temi"

1. a dupla repetição do radical פַחַד dá intensidade à expressão; literalmente: " porque um temor que eu temi" ou "porque um receio que eu receiei" ou "um medo que eu tinha medo"

2.em פַחַד com a finalização תִּי da primeira pessoa no singular no passado, o verbo em ação completa, ou seja, um temor ou receio que já não existe mais porque já se concretizara.

3.פַחַד sem artigo fica indefinido, um medo, um temor, Jó não conseguia definir seus receios; uma espécie de agonia.

וַיֶּאֱתָיֵנִי
" sobreveio em mim"

וַאֲשֶׁר יָגֹרְתִּי
" e o que eu temi"

פָּחַדְתִּי e יָגֹרְתִּי são sinônimas, mas entendo mais a primeira como MEDO e a segunda como TEMOR, ambas no completo.

יָבֹא לִי
"chegou em mim"


לֹא שָׁלַוְתִּי
"não havia paz (tranquilidade, sossego, calma) em mim"

שָׁלַוְתִּי do radical de paz; também no completo, denotando que antes de sua provação ele já não tinha paz.


וְלֹא שָׁקַטְתִּי
" e não havia sossego (repouso, serenidade, calma, tranquilidade) em mim."

שָׁלַוְתִּי e שָׁקַטְתִּי são também sinônimas, enfatizando o estado emocional pertubado de Jó ainda na sua riqueza; ambas no completo.


וְלֹא-נָחְתִּי
"e não havia descanso (repouso) em mim"

נָחְתִּי mesmo radical de Noah, ou Noé, símbolo bíblico do descanso; no completo.

וַיָּבֹא רֹגֶז
" e está vindo em mim uma fúria."

רֹגֶז fúria, raiva, ira, cólera; Jó fecha a sua primeira fala com uma confissão.


Perceberam a gravidade do estado emocional de Jó rico? Ele precisava de ser tratado! A provação dele não foi um teste de fidelidade que D'us faz aleatoriamente nos homens, e sim um esvaziamento de sua ansiedade para que ele realmente conhecesse a Quem era fiel.

Quais são as características de quem vive com ansiedade ?

A ansiedade é a capacidade de antecipar o perigo, e isso é uma geração emocional preparadora para algum evento novo como uma entrevista para um emprego ou uma prova. Ela pode fazer perder o sono, mas alguns cientistas aprovam que sem ela não haveria sucesso na espécie humana.
A ansiedade se torna patológica quando deixa de ser útil e passa a causar sofrimento excessivo ou prejuízo para o desempenho do indivíduo. Culmina em doenças como o transtorno de Pânico, ou mais graves como a Síndrome do Pânico, quando sem motivo aparente a pessoa tem taquicardia, dor no peito e uma forte sensação de morte (às vezes ocorre quando se está vendo televisão). Estas sensações podem durar uns quinze minutos e abarrotam as emergências dos hospitais com o tremendo susto que dá no paciente e nos familiares.

Os sintomas da Síndrome de Pânico são como uma preparação do corpo para alguma "coisa terrível". A reação natural é acionar os mecanismos de fuga. Diante do perigo, o organismo trata de aumentar a irrigação de sangue no cérebro e nos membros usados para fugir. Eles podem incluir :
Contração / tensão muscular, rijeza
Palpitações (o coração dispara)
Tontura, atordoamento, náusea
Dificuldade de respirar (boca seca)
Calafrios ou ondas de calor, sudorese
Sensação de "estar sonhando" ou distorções de percepção da realidade
Terror - sensação de que algo inimaginavelmente horrível está prestes a acontecer e de que se está impotente para evitar tal acontecimento
Confusão, pensamento rápido
Medo de perder o controle, fazer algo embaraçoso
Medo de morrer
Vertigens ou sensação de debilidade
A partir da primeira crise, o paciente pode desenvolver pavor de tê-la de novo, o medo de ter medo.

Atinge pessoas em idade média de 21 a 40 anos. Afeta as mulheres em número maior por causa do acúmulo de atividades da era moderna.

Perfil das pessoas acometidas pelas crises agudas de ansiedade:

Geralmente são pessoas extremamente produtivas à nível profissional, costumam assumir uma carga excessiva de responsabilidades e afazeres, são bastantes exigentes consigo mesmos, não convivem bem com erros ou imprevistos, têm tendência a se preocuparem excessivamente com problemas cotidianos, alto nível de criatividade, perfecionismo, excessiva necessidade de estar no controle e de aprovação, auto-expectativas extremamente altas, pensamento rígido, competente e confiável, usa de repressão de alguns ou todos os sentimentos negativos (os mais comuns são, o orgulho e a irritação).

Essa forma de ser acaba por predispor estas pessoas a situações de stress acentuado, fato este que pode levar ao aumento intenso da atividade de determinadas regiões do cérebro desencadeando assim um desequilíbrio bioquímico e consequentemente o aparecimento do Transtorno do Pânico.
Lições sobre a experiência de Jó

1.Ele tinha a preocupação excessiva de sacrificar pelos pecados ocultos de seus filhos porque já muito sofria de inquietação secretamente (Jó1.5);

2.Quando perdeu tudo, o seu coração se esvaziou da ansiedade, dando espaço à uma experiência mais profunda com D'us:

"Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te vêem os meus olhos." Jó 42.5

Para saber mais sobre ansiedade, Trantorno e Síndrome do Pânico:




domingo, 10 de outubro de 2010

Moisés viu D'us? Êxodo 33.11 O Fenômeno da Sinestesia




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Com a queda, a visão do homem do mundo espiritual se tornou tão limitada que ele não consegue dedectar certos movimentos ao seu redor. Isso porque seus olhos abriram para o mal (Gênesis 3.7) e este tem a função primordial de ocupar ou distrair os nossos sentidos. Antes, Adão e Eva tinham os seus canais inseridos no mundo espiritual de D'us. Após o pecado passaram a dividir a sua visão do bem com as coisas do mal. Essa divisão passou a enfraquecer a sensibilidade do homem ao mundo espiritual.

O servo de Eliseu não enxergou o mundo espiritual num momento de perseguição, assim o profeta orou:

"Ó Senhor, peço-te que lhe abras os olhos, para que veja. E o Senhor abriu os olhos do moço, e ele viu que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu."
II Reis 6.17

Cinco sentidos nós temos: visão, audição, olfato, paladar e tato. Todos são representados e ativados nas cerimônias dos hebreus no Tabernáculo: no lavatório (tato), na mesa dos pães (paladar), no incensário (olfato), no candelabro (visão) , no ouvir da leitura das Tábuas (audição), etc. São formas de D'us se comunicar com o homem que o mal procura bloquear ou distrair.

A questão se Moisés viu ou não D'us está no versículo:

"Falava o Senhor a Moisés face a face, como qualquer fala com o seu amigo." Êxodo 33.11

comparado a :

"Não poderás ver a Minha face, pois homem nenhum pode ver a Minha face, e viver." Êxodo 33.20

O que ocorreu com Moisés foi o seguinte: ele conseguiu desligar os seus sentidos das distrações e vozes do mundo e voltou-os totalmente para sentir D'us. Nessa dimensão, a presença Dele é tão próxima e intensa que os cinco sentidos se tornam um só! Eles se misturam formando um canal e ele ouviu, sentiu e viu ao mesmo tempo. ** A esse fenômeno denominamos SINESTESIA.(1)

No texto hebraico de Êxodo 33.11

וְדִבֶּר יְהוָה אֶל-מֹשֶׁה
"E falava YHWH para ('el = à, em direção, junto a) Moisés
פָּנִים אֶל-פָּנִים
faces à faces*
כַּאֲשֶׁר יְדַבֵּר אִישׁ אֶל-רֵעֵהוּ
(Como) quando se fala um homem para seu companheiro (amigo)."

O texto não diz que Moisés viu as faces de D'us, o texto diz que Moisés OUVIU as faces de D'us!

O primeiro passo para se achegar a Ele é ouvir a Sua voz. O sentido que D'us mais tem investido no homem para se comunicar é a audição: "Shemá, Israel" ou "Ouve, ó Israel, o Senhor nosso D'us é o Único -Echad- Senhor."(Deuteronômio 6.4).

Observações importantes:

* no hebraico literal não existe o termo singular "face", são "faces" espirituais; não pode-se confundir com "face" física, ou rosto.

Moisés tentou compreender isso após a experiência de Êxodo33.11:
הַרְאֵנִי נָא, אֶת-כְּבֹדֶךָ
" A minha visão, por favor, da Sua Glória!" Êxodo 33.18
Nas interpretações judaicas Moisés queria dizer: "Deixa-me compreender, por favor, Tua Única natureza!"

Exemplos sobre a mistura de sentidos em experiências de homens com D'us,
onde há a grande sensação de "ver" e o temor gerado por ela:
Israel no deserto
"Quando o povo viu os trovões e os relâmpagos, e o clangor da buzina, e o monte fumegante, tremeu de medo, retirou-se, pôs-se de longe, e disse a Moisés: Fala tu conosco, para que não morramos." Êxodo 20.19
Ezequiel
"...este era o aspecto da semelhança da Glória do Senhor; vendo isto, caí sobre o meu rosto, e ouvi a voz de quem falava." Ezequiel 1 - leia 4 a 28.
Elias
"Disse-lhe D'us: Vem para fora, e põe-te neste monte perante as faces do Senhor, pois Ele vai passar." "...Depois do fogo uma voz calma e suave. Ouvindo-a Elias, envolveu o rosto na capa..."
I Reis 19, leia de 11-13
Jacó
"...porque lutaste com D'us e com os homens, e prevaleceste." Gênesis 32.28
"Vi a D'us faces a faces, e minha vida foi poupada." Gênesis 32.30
Gideão"Ai de mim, Senhor D'us, que vi o anjo do Senhor faces a faces." Juízes 6.22
Isaías"Ai de mim, que vou perecendo! Porque eu sou um homem de lábios impuros...e os meus olhos viram o rei, o Senhor dos Exércitos!" Isaías 6.5
** foi o pecado que separou os nossos sentidos: "foram abertos os olhos" Gênesis 3.7; a visão desvinculada dos outros sentidos é carnal.


(1) SINESTESIA
Fonte:http://www.brasilescola.com/oscincosentidos/sinestesia.htm
autora: Paula Loredo



A sinestesia é uma condição neurológica que provoca uma mistura dos sentidos.

sinestesia é uma condição neurológica do cérebro que interpreta de diferentes formas os sinais percebidos pelo nosso sistema sensorial. É uma confusão neurológica que provoca a percepção de vários sentidos de uma só vez. Essa condição não é considerada uma doença mental, e sim uma forma diferente que o cérebro tem de interpretar os sinais. Uma em cada duas mil pessoas têm sinestesia, e essas pessoas podem ver sons, sentir cores ou o paladar das formas.  
A sinestesia é um processo involuntário do cérebro, e sua causa ainda é desconhecida. Acredita-se apenas que ela tenha causa hereditária, seja mais comum em mulheres e em pessoas canhotas. “A sinestesia é comum em algumas famílias, e está relacionada a pelo menos três cromossomos”, diz a psicóloga britânica Julia Simner, da Universidade de Edimburgo, na Escócia.
Em 1960, John Locke descreveu pela primeira vez a sinestesia, ao relatar o caso de um cego que percebeu o que era a cor vermelha pelo som de uma trompa. Na medicina, o primeiro caso registrado de sinestesia se deu em 1922 com uma criança de quatro anos de idade.
As associações sinestésicas podem estimular a memória, por isso vários artistas, músicos, escritores, dentre outros, mencionam a sinestesia como um importante componente em seus trabalhos. No século XIX, um artista podia se passar por sinestésico para ficar mais próximo do invulgar, do excêntrico e até da perfeição humana. O artista plástico russo Kandinsky sentia fascínio pelos sinestésicos, e utilizou a sinestesia entre a música e a pintura para inspirar suas obras.
As pesquisas sobre tal assunto tiveram início há poucos anos, por isso não se tem um teste que comprove adequadamente se a pessoa é ou não sinestésica.  O teste mais utilizado atualmente foi desenvolvido pelo professor de psicopatologia do desenvolvimento Simon Baron-Cohen, da Universidade de Cambridge. O teste, chamado de Teste da Genuidade (TG), mede a estabilidade da relação entre estímulos e respostas ao longo do tempo. Uma sequência de estímulos (cores, sons, odores, palavras) é apresentada ao provável sinestésico, e em seguida suas respostas sensoriais são registradas. Outro teste é feito baseando-se na pesquisa visual. Em um quadro com letras em branco e preto estão “escondidas” outras letras vistas pelo sinestésico como coloridas.


Pessoas sinestésicas associam notas musicais a cores.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Diferenças entre os nomes El'him(D'us) e elohim (deuses)

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Do início de Gênesis até o capítulo 2.3 , é mencionado somente o Nome El'him
אֱלֹהִיםreferindo-se ao D'us Criador.

Por que um nome tão genérico, que é usado também para deuses pagãos, é colocado num texto introdutório tão importante na Bíblia?

Como já citamos, o termo "elohim" pode se referir no texto hebraico tanto a seres ou poderes superiores (ISamuel 28.13 "vejo deuses subindo da terra") como anjos, juízes, governantes e outros deuses pagãos, quanto ao D'us Único.

Como exemplo, vemos em I Reis 18.24 a palavra "elohim" sendo usada para D'us e para os deuses dos profetas de Baal.
O profeta Elias nos ensina como fazer a distinção:


וּקְרָאתֶם בְּשֵׁם אֱלֹהֵיכֶם
"(E) Chamai pelo nome dos seus deuses ("eloheichem" do radical elohim)

וַאֲנִי אֶקְרָא בְשֵׁם-יְהוָה
e eu chamarei pelo nome YHWH

וְהָיָה הָאֱלֹהִים אֲשֶׁר-יַעֲנֶה בָאֵשׁ*
e será D'us(El'him) quem (asher=certificado, aprovado) responder pelo fogo


הוּא הָאֱלֹהִים
Ele é o D'us

וַיַּעַן כָּל-הָעָם
e respondeu todo o povo

וַיֹּאמְרוּ
e falaram para ele:

טוֹב הַדָּבָר
boa palavra. "


A diferença entre "El'him" e "elohim" é que estes não respondem!
(I Reis 18.26) Podemos dizer que "deuses" não tem verbo próprio porque não agem sem consentimento.

Assim, em Gênesis 1, o que dá Realeza à El'him é o que Ele faz, o Verbo é mais importante que o Nome.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Rosh Hashaná 5771


Nos dias 8 e 9 de setembro serão realizadas as comemorações de um Novo Ano Judaico. Neste ano vou transcrever um trecho de um dos conselhos de Rabi Sir Jonathan Sacks publicados na Revista Morashá, desse mês (Setembro, ano XVIII,2010):

"Usem bem o seu tempo. Nossa vida é curta, muito curta para ser desperdiçada diante da televisão, nos jogos de computador .... "Ensina-nos a contar os nossos dias", diz o Salmista, "para que tenhamos um coração de sabedoria."
Mas um dia em que fazemos algo de bom a outrem não é um dia desperdiçado."

Nessa época os israelitas costumam passar maçãs no mel, para que o ano que se inicia seja tão doce como ele. Assim,

Shaná Tová Umetucá! Um Ano Novo Doce para todos vocês!!!

Prof. Gláucia Vilela.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O que consistia o voto de Jefté? (Juízes11.30)


O judaísmo é uma religião muito preocupada com o acerto dos ciclos naturais do mundo. Isso porque essa é base para a Vida nos ensinos da Torah . Os judeus chamam de "Tikun Olam" ou seja, Ordem do Mundo, o que procura justamente uma ética para organizar quebras de ciclos ou pequenas desordens.

Assim, muitas coisas que os israelitas não fazem, na verdade são porque simbolizam quebras de ciclos da Vida.
Um exemplo?
Eles não misturam nos alimentos leite e carne, porque um simboliza a Vida (sem o leite, os filhotes não podem crescer) e o outro é símbolo da morte (para se ter carne, um animal deve ser sacrificado).

Sacrificar um filho passou a ser um grande erro para os hebreus, pois era a quebra da geração de Vida de uma família provocada por um membro do próprio ciclo. Os habitantes de Canaã faziam isso através de votos e contaminaram alguns de Israel por causa da desobediência:

"Não destruíram os povos, como o Senhor ordenara, mas se misturaram com as nações, e adotaram os seus costumes... sacrificaram seus filhos e suas filhas aos demônios. Derramaram sangue inocente, o sangue de seus filhos e de suas filhas...." trechos de Salmos 106.34-40.

Perceberam a gravidade desse texto?
Só exite sacrifício de filhos e filhas aos demônios, a D'us jamais!

Para corrigir essa terrível prática no Seu povo Santo, D'us instruiu Abraão a sacrificar o seu único filho (Gênesis 22). Se nos dias de hoje, isso seria um abismo, para Abraão era natural, afinal, era comum sacrifícios de filhos aos deuses! Apesar de crer que Isaque poderia reviver,
esse era o degradante pensamento de toda uma geração, que foi mudado com um novo conceito: o D'us de Israel oferece Redenção. Assim, o rapaz foi substituído por um carneiro trazido pelo próprio D'us (v.22.13), sendo depois fixada a ordem na Lei de Moisés:

"Não haja no teu meio quem faça passar pelo fogo o filho ou a filha..."
Deuteronômio 18.10

O VOTO DE JEFTÉ NO TEXTO EM HEBRAICO

E o voto de Jefté: "qualquer que, saindo da porta da minha casa, me vier ao encontro... esse será do Senhor, e o oferecerei em holocausto." Juízes 11.30-31 e "Ela era filha única." v.34

Já falamos em outras postagens que a Bíblia possui termos linguísticos que não devem ser considerados literalmente, como temos hoje: "Pisar na bola", "Chutou o balde", etc.. Assim temos na análise do termo "oferecer em holocausto" no texto hebraico:

וַיִּדַּר יִפְתָּח נֶדֶר לַיהוָה
"E fez Jefté um voto ("neder") ao Senhor

וַיֹּאמַר:
e disse:

אִם-נָתוֹן תִּתֵּן אֶת-בְּנֵי עַמּוֹ בְּיָדִי.
Se "dado baixa" os filhos de Amon pela minha mão

וְהָיָה הַיּוֹצֵא
a vida (ser) criado

אֲשֶׁר יֵצֵא מִדַּלְתֵי בֵיתִי לִקְרָאתִי
que sair pela porta de minha casa ao meu encontro

בְּשׁוּבִי בְשָׁלוֹם מִבְּנֵי עַמּוֹן--וְהָיָה
na minha volta em paz dos filhos de Amon, e vivo,

לַיהוָה, וְהַעֲלִיתִיהוּ עֹלָה
é do Senhor e o elevarei a Ele em holocausto."


Que texto lindo!!! Não tem nada de sacrifício!

Concluímos que os radicais das palavras elevar e holocausto ("olah") são os mesmos.

Assim, a moça foi "elevada" em holocausto, num termo lingüístico que segue as regras de voto
pelas avaliações da *tabela de Levíticos 27.
*ver post de 12/07/2010

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Os votos de Jefté e Ana (Conclusão de: Jefté sacrificou a sua filha?)


Um voto era uma promessa realizada em termos solenes em que uma pessoa se obrigava a realizar um ato ou abster-se de alguma coisa. Diferente dos dias atuais, era muito comum a realização de votos no mundo antigo e podia ser registrado em uma espécie de cartório. Em alguns casos, havia até multas de 20% sobre o valor da avaliação do objeto prometido, caso a pessoa quisesse fazer o resgate em forma de dinheiro.
Para Israel, após a determinação da Lei Mosaica, a Lei do Voto passou a ter dois principais objetivos:
1. Ensinar ao povo lições sobre o Resgate que só o D'us Único ('Echad) oferecia;
2. Glorificar e enaltecer as bençãos e vitórias que esse mesmo D'us concedia.
Votos precipitados de mulheres podiam ser anulados pelos pais ou maridos: Números 30.6.
Os votos de Jefté e Ana

Levíticos 27.2: "Esta é a lei quando uma pessoa expressa um voto para doar a D'us o valor estimado de uma pessoa."

Esse é o tipo de voto realizado por Jefté, exatamente igual ao realizado por Ana (ISamuel 1.11):

VOTO DE JEFTÉ: "E Jefté fez um voto ao Senhor: Se totalmente entregares os filhos de Amom nas minhas mãos, qualquer um que, saindo da porta da minha casa, me vier ao encontro, voltando eu vitorioso dos filhos de Amom, esse será do Senhor, e o oferecerei em holocausto." Juízes11.11.30-31

VOTO DE ANA: "Ela, com amargura de alma, orou ao Senhor, chorou muito, e fez um voto, dizendo: Ó Senhor dos exércitos, se benignamente atentares para a aflição da sua serva, e de mim te lembrares, e da tua serva não te esqueceres, mas à tua serva deres um filho, ao Senhor o darei por todos os dias da sua vida, e sobre a sua cabeça não passará navalha." ISamuel 1.10-11
A diferença é que Ana não mencionou o novilho que deveria entregar para o holocausto no cumprimento do seu voto, mas em I Samuel 1.24-25 cita o dia da entrega do menino:
"Havendo-o desmamado, tomou-o consigo, com um novilho de três anos, um efa de farinha e um odre de vinho, e o levou à casa do Senhor, em Siló....degolaram o novilho, e trouxeram o menino a Eli."

Obviamente, Jefté esperava uma multidão para recebê-lo na volta de sua vitória contra Amom. Talvez imaginasse um servo ou escravo, mas sabia muito bem do risco de ser a própria filha. A tristeza profunda dele foi provocada pelo desmantelamento das suas riquezas nesse voto.
O que acarretaria? Jefté não teve direito à herança junto aos seus pais porque era filho bastardo.Todos os seus bens vieram de suas administrações e vitórias como juiz de Israel. No primogênito se dá a promessa de herança e gerenciamento de todos os bens do pai. No caso de uma filha primogênita, esperava-se ela casar e ter um filho homem para receber o direito de primogenitura. Ao fazer esse voto, Jefté ofereceu em holocausto o que a moça valia: toda a sua herança!!!

Observamos aí, um princípio espiritual no ciclo de heranças na época de consolidação da nação israelita. Riquezas herdadas pelos pais, eram transmitidas aos filhos e passadas às próximas gerações. Como Jefté não havia herdado nada, os bens que acumulou também não serviram de herança para ninguém, voltaram para D'us.

Quanto à moça, tornou-se pobre e impossibilitada de casar. (Juízes11.40)

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Por que Deus é invisível?



Para ilustrar, é só imaginar que D'us está neste momento no dia do seu nascimento, ao seu lado, lendo agora este artigo e no dia de sua morte. Assim, Ele vive simultaneamente em toda a História.

É uma outra dimensão de tempo (alguns rabinos chamam de 4ª Dimensão) além do nosso Passado, Presente, Futuro. É por isso que uns dos melhores Nomes para definir D'us é Eterno.


E por que não vejo D'us?

A capacidade de visão do homem se limita somente ao tempo Presente, ou seja, só podemos ver aquilo que está diante de nossos olhos em um determinado momento. Não podemos visualizar mais as coisas do passado (só lembrar delas) e muito menos ver as coisas do futuro.

Mas D'us vive ao mesmo tempo no Passado, no Presente e no Futuro. Para que pudéssemos vê-Lo, Ele teria que se limitar somente ao tempo Presente, perdendo a sua capacidade de Onipresença, ou seja, a de estar ao mesmo tempo em todos os lugares e em todos os tempos.

Não vemos D'us porque Ele é Onipresente.


"Tal ciência é para mim maravilhosíssima; tão alta qua não a posso atingir."
Salmos 139.6

Outros textos sobre o assunto:

I Reis 8.27; Salmos 139.16; Provérbios 15.3; Jeremias 23.23 e 24, dentre outros.


Profª. Hadassah Ada (artigo editado)

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Um homem morto por violar o Sábado (Números 15). Por que as Leis de Moisés eram tão rígidas?


















Na época de consolidação da nação israelita, após a saída do Egito, vemos uma extrema rigidez nas leis do deserto. O povo precisava muito disso porque ainda estava acostumado com os códigos pagãos e infantilmente procurava testar os castigos das leis de Moisés. Foi o caso do homem que foi morto porque estava colhendo lenha em dia de Sábado (Números 15. 32-36).


A foto acima é de uma Torah e uma "yad" (mão"). Esta é uma espécie de ponteira que auxilia os rabinos na leitura do texto, para que não se percam.


Ao longo da história humana, vemos que os códigos legislativos estão sempre sendo modificados ou evoluídos para acompanhar as atualidades culturais de cada sociedade. Portanto, nos tempos de Moisés não haviam Leis de Trânsito, porque não existiam veículos e estradas para tal, assim como nos dias de hoje, no Código Legislativo Brasileiro, não exitem as Leis de Primogenitura na divisão dos bens de herança (Deuteronômio 21.17), embora ainda haja algumas sociedades orientais que as cumpram.

É evidente que as Leis do Deserto foram elaboradas para formar um povo Santo, que tinha um D'us piedoso, e que hoje devem ser consideradas como leis espirituais. Assim, a proibição de semeadura de espécies diferentes em um mesmo campo, do uso de vestidos de dois tecidos diferentes, ou do acasalamento de animais de espécies distintas (Levíticos 19.19), podem parecer muito estranhas, mas oferecem uma mensagem implícita sobre a ordem nos Ciclos da Vida.

No decorrer da história bíblica vemos que foi aumentando a lassidão na guarda do Sábado, sendo certo considerar também que alguns passaram a guardá-lo por costume, e não por espírito religioso.

Assim, vemos ainda no deserto que repetidas vezes o povo desobedeceu a guarda do Sábado e contou com a misericórdia divina. Foram poupados da morte, mas receberam severos castigos nas aflições e privações do deserto sendo impedidos de teram as suas "casas próprias" na Terra que lhes foi prometida:

"Demais, eu levantei a minha mão para eles no deserto, para não os deixar entrar na terra que lhes tinha dado, a qual mana leite e mel, e é a glória de todas as terras, porque rejeitaram os meus juízos, e profanaram os meus sábados. Pois o seu coração andava após os seus ídolos. Não obstante o meu olho lhes perdoou, para não os destruir nem os consumir no deserto." Ezequiel 20.15-17

Reparamos também, no caso do homem morto por causa do Sábado, que era uma época de primeiro amor de Israel com o Seu D'us. Como foi um caso isolado, a sua atitude foi tratada como aberração e levantada como exemplo para quem mais resolvesse fazer o mesmo.
Consequentemente, o erro e a condenação desse homem serviu de lição para uma posterior mensagem que D'us tinha para o Seu povo: pelo código legislativo do deserto, todos estão condenados à morte, mas a misericórdia pode romper a Lei.

Na introdução do livro de Isaías, vemos D'us extremamente irritado com aqueles que guardavam o Sábado, cumpriam os ritos da Lei Mosaica e que não tinham um pingo de misericórdia aos que tinham limitações. Condenavam em suas mentes os que julgavam pecadores nos seus infortúnios. Por causa de seu orgulho em cumprir a lei publicamente, lançavam um olhar de desprezo aos necessitados:

" De que me serve a multidão dos vossos sacrifícios, diz o Senhor? Já estou farto dos holocaustos.... Não continuies a trazer ofertas vãs! O incenso é para mim abominação, e também as luas novas, os sábados, e a convocação das congregações; não posso suportar iniquidade, nem o ajuntamento solene.... escondo de vós os meus olhos...."
"....lavai-vos, e purificai-vos. Tirai a maldade dos vossos olhos atos de diante dos meus olhos! Cessai de fazer o mal, e aprendei a fazer o bem!
"Praticai o que é reto, ajudai o oprimido. Fazei justiça ao órfão, tratai da causa das viúvas." Isaías 1.11-19

Assim, vemos com a evolução da história de Israel, que aliviar as pesadas cargas do próximo está
acima de qualquer Lei Espiritual. Podemos até não conseguir cumprir fielmente a Lei Mosaica, mas se temos um coração voltado para observar e atender as necessidades de uma alma aflita, certamente conquistaremos pontos a mais para alcançar a misericórdia divina.






segunda-feira, 12 de julho de 2010

Jefté sacrificou a filha? Juízes 11.30-40 (I Parte)


Iremos discutir sobre um texto que traz alguns problemas em sua interpretação.
Trata-se de Juízes 11.30-40 onde Jefté realiza um voto de holocausto que recaiu sobre a sua primogênita.

Jefté era filho de uma prostituta. O seu pai, Gileade, era casado e tinha filhos mais velhos que o repeliram para não ter que dividir a herança com mais um (Juízes 11.2).

Fugido, desprezado e fadado à pobreza por não ter o que herdar, tornou-se um valente e famoso mercenário para poder sobreviver e, provavelmente, praticava delitos pelo grupo de "amigos" que atraiu, chamados de "levianos" em Juízes 11.3.
E por que os anciãos chamaram a Jefté, um bandido, para liderar Israel numa guerra contra os amonitas?

"Por que agora viestes a mim quando estais em aperto?" Números 11.7

Por ser desprezado, sem família e bens, a vida de Jefté e seus companheiros não valia nada, literalmente. No mundo antigo a vida das pessoas valia dinheiro!

Então, segundo a tabela de preços de Levíticos 27.2-8:

homem de 20 a 60 anos ____________50 shekel de prata

mulher de 20 a 60 anos ____________30 shekel de prata

homem de 5 a 20 anos _____________20 shekel de prata*

mulher de 5 a 20 anos______________10 shekel de prata

bebê menino de 1 mês a cinco anos_____5 shekel de prata

bebê menina de 1 mês a cinco anos_____3 shekel de prata

homem idoso acima de 60 anos_______15 shekel de prata

mulher idosa acima de 60 anos_______10 shekel de prata

*José era adolescente e foi vendido por 20 peças de prata ( Gênesis 37.28), ou seja, foi avaliado dentro dessa tabela.

As leis de Levíticos foram registradas bem depois da história de José. Foram mais de quatrocentos anos entre a venda de José por vinte peças de prata e a publicação da tabela pelas leis de Moisés.

Isso quer dizer que as Leis de Moisés foram uma adaptação santa de leis que já existiam e eram praticadas no mundo antigo.

Assim, o Código Hebreu foi feito de leis de outros códigos pagãos moldadas para a santificação de Israel. Isso pode parecer estranho, mas é por isso que foi mantida a Lei do Talião, "olho por olho, dente por dente" porque a lei "do o que se faz de errado se paga na proporção", estava ainda entranhada nas raízes do povo em formação. O povo de Israel precisava de leis para organizar a sua formação, mas elas não poderiam entrar em conflito com os seus costumes diários.


Assim, os sacríficios de animais para agradar aos deuses eram costumeiramente realizados pelos povos do mundo antigo, que acabaram estendendo à prática de sacrifício de crianças. Os primogênitos eram mais valiosos, e eram uma forma sublime de alcançar grandes bençãos.

O D'us de Israel usou o sacrifício e o derramamento de sangue dos povos pagãos para dar lições ao povo recém formado sobre REDENÇÃO.

A primeira grande lição que D'us quis dar à Israel sobre redenção foi a proposta à Abraão de sacrificar o seu primogênito e oferecê-lo em holocausto (Gênesis 22.2-12). A cultura pagã estava tão enraizada nele que não relutou em obedecer, muito menos Isaac, já um rapazinho, fugiu ou lutou contra o pai para não morrer. Os valores morais da época permitiam tal sacrifício sem condenação e D'us tinha que mudar isso, a começar pelos patriarcas, os fundadores da nação.
A mensagem era a seguinte: se os outros deuses obrigam vocês a dolorosamente sacrificar os seus primogênitos no fogo, Eu, o D'us de Israel, dou a opção de subtituir esse sacrifício por um animal macho, sem defeitos, também de grande valor, do seu rebanho.
Essa proposta de Redenção do D'us Único serviu de grande alívio para Israel, e muitos estrangeiros se aliaram ao povo por causa dela.

No mundo antigo era muito comum o hábito de se fazer votos que recaíam em sacrifícios de vidas humanas. Assim, em Israel, não se proibiu a lei do voto, mas passou-se a doar a D'us o valor estimado de uma pessoa (Voto de Holocausto - Levíticos 27.1) segundo a tabela dada acima. Um siclo nas versões cristãs ou um shekel na moeda do texto hebraico, vale cerca de 22,9 gramas de prata.

* em Gênesis 37. 28, usa-se o termo "Kessef", dinheiro ou peças de prata pagas pelos árabes por José. Continua nos dias 3 e 6 de setembro de 2010,
nos links: http://telahebraica.blogspot.com/2010/09/o-que-consistia-o-voto-de-jefte.html
e
http://telahebraica.blogspot.com/2010/09/o-voto-de-jefte-e-ana-conclusao-de.html

terça-feira, 6 de julho de 2010

O juramento "coloca a mão sob a minha coxa" e o Nervo Ciático de Jacó

O nervo ciático é o maior nervo do corpo humano, tendo o diâmetro aproximado de um dedo.
O versículo em questão (Gênesis 24.2):
וַיָּשֶׂם הָעֶבֶד אֶת-יָדוֹ תַּחַת יֶרֶךְ אַבְרָהָם אֲדֹנָיו
"E seu servo colocou a mão sob a coxa ( ierer') de Abraão (seu) senhor."

A palavra coxa יֶרֶךְ
também traduzida para extremo, extremidade ou parte posterior. É o mesmo radical usado em Gênesis 32.33 quando Jacó, lutando com um anjo, teve o nervo de sua coxa (ierer') deslocado.
No caso desse último, o nervo deslocado ("guid ha-nashe") trata-se do ciático, o maior da extremidade inferior, descendo pela parte anterior da perna.


O Nervo Ciático se origina nas regiões lombares (4ª e 5ª Vértebra Lombar) e sacral da medula espinhal. Fornece inervação motora e sensitiva para a extremidade inferior.
A ciática é uma dor na perna devido a irritação do nervo ciático. Essa dor geralmente sente-se desde a parte posterior da coxa até a parte posterior da panturrilha, e pode se estender até os quadris e os pés.
No mundo o antigo esse nervo já era bem conhecido pela sua importância e localização na anatomia humana, tanto que se fazia juramentos por ele. Se lesionado, o homem teria dificuldades de trabalhar, produzir e até ter relações sexuais dependendo da intensidade da dor.

Após o deslocamento de seu nervo ciático na luta contra um anjo em Gênesis 32.33, Jacó teve alguns incômodos:

Sintomas da Dor no Nervo Ciático:
A dor no nervo ciático geralmente afeta um lado do corpo. A dor pode ser sutil, aguda, como uma queimação ou acompanhada por choques intermitentes de dor aguda, começando nas nádegas e se prolongando para baixo por trás ou pelo lado da coxa e/ou perna. A dor no nervo ciático se estende até abaixo do joelho e pode ser sentida nos pés. Algumas vezes, os sintomas incluem formigamentos, dormências , parestesias (baixa sensibilidade) dificuldades de movimentação. Sentar ou tentar se levantar pode ser doloroso e difícil. Tossir e espirrar pode intensificar a dor.

Colocar a mão sob a coxa era uma forma usada para juramento (ver também em Gênesis 47.29, onde Jacó, velho e perto de morrer, pede para José fazê-lo). De acordo com o idioma bíblico as crianças saíam da "coxa" do pai ( Gênesis 46:26 "que emanaram da sua coxa"; Êxodo 1.5 ("almas que emanaram da coxa de Jacó "; Juízes 8:30) daí o termo "coxa" seria um eufemismo para o órgão procriador. Portanto, quem fazia o juramento teria que colocar a mão na virilha ou nas regiões próximas aos genitais do homem com quem ele fazia aliança.

Em algumas circunstâncias a virilidade do homem também era colocada em questão nesse juramento, por esta ser muito considerada no mundo antigo. Homens com muitos filhos eram considerados viris e em alguns casos isso era até mais importante que ter riquezas.

Pela questão cultural, as mulheres estéreis ficavam apavoradas por não poder provar a virilidade de seus maridos, tanto que foi um alívio para Sara quando Abraão teve um filho da escrava egípcia Hagar.

Entretanto esse juramento não tinha apenas conotação sexual, pois a passagem do nervo ciático nessa região e uma provável lesão nele poderia impedir de um homem trabalhar ou andar, o que era também uma grande maldição no mundo antigo.

Assim, a região da"coxa" de acordo com a tradição talmúdica, passou a ser o sinal sagrado da aliança, e o servo tinha que colocar a sua mão próximo a ela assim como em tempos posteriores uma promessa seria feita sobre um rolo de Torá (Shevuot38b; Targum Yonatan;Rashi).

Antes que a parte traseira de um animal possa ser comida, este nervo com todas as suas ramificações, era cuidadosamente removido (Gênesis 32.33). Uma vez que isso é muito difícil de fazer, os traseiros do gado não são usualmente consumidos pelos judeus.

Na luta contra o Anjo de D'us, com o seu nervo lesionado Jacó pode na verdade ter recebido uma benção por causa das referências na Torah do número de "almas que emanaram de sua coxa",
(Gênesis 46.26 e Êxodo 1.5).


Bibliografia:
http://www.vertebrata.com.br/nov_17.php

A Torá Viva; anotado por Rabino Aryeh Kaplan; Ed. Maayanot, 2ª ed.,2003.

Dicionário Português Hebraico e Hebraico Português - Abraham Hatzamri e Shoshana More-Hatzamri - ed. Sêfer

quinta-feira, 17 de junho de 2010

A Linguagem Bíblica do Mundo Antigo: O que significa "coloca a mão sob minha coxa"? (Gên 24.2)

picasaweb.google.com/.../YFTsKmyCuaUAHthi03j0rw Imagem: O servo de Abraão e Rebeca
Uma das características do texto bíblico hebraico é a riqueza de linguagem alegórica.
Existem bons exemplos nos livros de Ezequiel, Salmos e Profetas Menores.
Cantar de Cantares não se tornaria um livro canônico se não fosse entendido como uma alegoria sobre a relação de D'us e o seu povo.

Definição de Alegoria
Uma alegoria na interpretação bíblica busca um entendimento mais profundo por trás das imagens simbólicas. No relato, o seu significado está para ser descoberto.
Na definição de Heráclito no século I D.C.: "é uma palavra, frase, oração ou verso que diz uma coisa mas que significa outra". (Alegorias de Homero 5.2). Trifon, um precursor de Heráclito, foi ainda mais claro: "a alegoria é um enunciado, que se bem literalmente significa uma coisa, mas na realidade evoca outra. ( De Tropis 1.1).
A Parábola
A parábola é outro gênero literário comum na Bíblia que se distingue da alegoria por ser mais simples e incluir um relato que efetivamente poderia ter ocorrido. As parábolas podem ser desconcertantes. A diferença entre uma alegoria e uma parábola é que esta busca explicar ou ensinar mediante um relato ilustrativo e aquela usa linguagem simbólica até com objetos inanimados.

O vale de ossos secos em Ezequiel 37.1-14 é um exemplo de alegoria. É um relato surrealista de ossos muito secos, um profeta que fala e alguns acontecimentos de caráter sobrenatural que levam à ressurreição deles. No versículo 11:

"וַיֹּאמֶר אֵלַי בֶּן־אָדָם הָעֲצָמוֹת הָאֵלֶּה כָּל־בֵּית יִשְׂרָאֵל"

" E logo me disse: Filho do homem, estes ossos são o povo de Israel"

Portanto, num significado mais profundo, pode-se entender corretamente que o texto explica a restauração de Israel. Destaca assim que o que pode ser impossível acontecer, acontece. Se o relato textual estivesse de forma direta, como por exemplo: "Israel será restaurado após ser dado como extinto.", não traria o impacto, o despertar dos sentidos que a alegoria e a parábola buscam.

Um fato importante que traz algumas dificuldades nas interpretações: o uso de frases alegóricas de hábito comum do mundo antigo.
Assim como hoje usamos termos como "chutar o balde" ou "pisar na bola", que não devem ser entendidos literalmente, na linguagem hebréia vemos várias expressões de estilo do mundo antigo.
O versículo em questão ( Gênesis 24.2):
וַיָּשֶׂם הָעֶבֶד אֶת-יָדוֹ תַּחַת יֶרֶךְ אַבְרָהָם אֲדֹנָיו
"E seu servo colocou a mão sob a coxa ( ierer') de Abraão (seu) senhor."
A palavra coxa יֶרֶךְ
também traduzida para extremo, extremidade ou parte posterior é o mesmo radical usado em Gênesis 32.33 quando Jacó, lutando com um anjo, teve o nervo de sua coxa (ierer') deslocado.
No caso desse último, o nervo deslocado ("guid ha-nashe") trata-se do ciático, o maior da extremidade inferior, descendo pela parte anterior da perna.
Continua no post sobre o nervo ciático de Jacó.
Prof. Gláucia Vilela

sábado, 15 de maio de 2010

Porque existem diferenças entre as Bíblias Hebraica e Cristã?

Diferenças na Divisão

Na Bíblia Hebréia há uma divisão tripartida dos seus livros: Leis, Profetas e Escritos. No Antigo Testamento Cristão encontramos: Pentateuco, Livros Históricos, Poesia, Sabedoria e Profetas. A ordem exata se detalha na tabela:




Para os estudantes a linguagem das Escrituras Hebraicas, assim como a sua condição no Canon, desempenham um papel essencial para a Exegese. O idioma do corpus literário que é 99% hebraico e menos de 1% aramaico, é um motivo muito importante para se aprender o Hebraico Bíblico.

Existem algumas diferenças da Bíblia Hebraica entre os judeus e cristãos no conteúdo e na ordem dos livros. É por isso que ao se fazer a exegese da versão hebraica, nos deparamos com discrepâncias da versão cristã. Também resolvemos divergências de textos, como aconteceu no post sobre o Arrependimento de D'us.

Outra área de frequente dificuldade envolve os vários nomes de D'us. A convenção seguida pela Septuaginta é sempre traduzir o tetragrama como "Senhor", e El'him como "D'us". Isso no entanto, muitas vezes produz resultados de difícil entendimento. A seguir um exemplo:

Diferenças de Salmos 110.1-2

Versão cristã:

"Disse o Senhor (1) ao meu Senhor (2): Assenta-te à minha direita, até que ponha os teus inimigos por estrado dos teus pés. O Senhor (3) enviará de Sião o cetro da tua fortaleza; dominarás no meio dos teus inimigos."

(tradução baseada em João Ferreira de Almeida, Edição Contemporãnea, Editora Vida)

Não conseguimos definir claramente aqui quem é quem no Senhor 1,2 e 3. Não sabemos definir também se o Senhor 3 se refere ao 1 ou ao 2 do versículo anterior.

Versão Judaica:

" As palavras do Senhor(1): Ao Meu mestre(2), espera à Minha direita; até que Eu faça de teus inimigos um escabelo para teus pés. O pão de tua força o Senhor(3) enviará de Sião. Governa entre teus inimigos!"

(Tradução de Adolpho Wasserman e Chaim Szwertszarf em "Tehilim" , McKlausen Editora)

Embora não seja uma tradução literal, pelo menos é contextualizada, nos dá uma noção de diferenças de pessoas, pois o Tetragrama não é traduzido nas duas. Assim, 1 refere-se ao Tetragrama, 2 à Adonai (literalmente 'Senhor') e 3 ao Tetragrama. Conseguimos compreender assim que o Senhor número 3 é a mesma pessoa do 1 e que está em hierarquia de poder superior ao 2.

Causas das diferenças nos Textos


O judaísmo contemporâneo deriva do movimento farisaico, que teve dois principais centros de estudos: Palestino e Babilônico. A literatura religiosa que veio dessa época está toda escrita sobre o texto hebraico e aramaico. Estas comunidades, palestina e babilônia, utilizaram a versão hebréia da Bíblia, conhecida mais tarde como Texto Massorético.

A religião irmã do judaísmo, o cristianismo, não estava centrado na etnia, mas acolhia os adeptos de todas as nações. Dada a rápida difusão do cristianismo no mundo de fala grega, é lógico que foi mais fácil o uso do texto bíblico em grego. Assim, foi difundida a escrita Septuaginta (LXX), que de acordo com a tradição, foi traduzida por 70 eruditos judeus. O Talmud da Babilônia comenta sobre 72 anciãos que traduziram a Torah de forma independente, sem nenhum tipo de diferença. Seja qual for a verdade que se esconde nessa tradição, a sessão da Torah na Septuaginta é uma das melhores traduções. A maioria dos estudiosos acham que a Torah foi traduzida ao grego por volta do século III a.C. e os demais livros, nos séculos seguintes.

Inicialmente, a Septuaginta contribuiu para que numerosos judeus de fala grega da Diáspora, como os de Alexandria no Egito, pudessem ser capazes de ler o texto bíblico. Entretanto, uma grande redução da população judia no mundo de fala grega e o uso da Septuaginta pelos cristãos no séculos II fizeram com que lentamente esta se tornasse parte da Bíblia cristã.

Nos agitos do cristianismo, a Septuaginta cumpriu o papel muito importante, mais que o Texto Massorético. Numa generalização histórica, podemos dizer que os precursores do judaísmo moderno utilizaram o Texto Massorético, enquanto no cristianismo, a Septuaginta desempenhou um papel mais destacado.

O uso do Texto Massorético e o da Septuaginta, respectivamente, pelo judaísmo e pelo cristianismo é o motivo da diferença na atual ordem dos livro canônicos, o que se reflete também nas traduções em português. Porém, o conteúdo geral é o mesmo.

Bibligrafia:

Stefan Bosman; The Biblical Hebrew team; ClassicalHebrew Newsletter.

A Torá Viva; anotado por Rabino Aryeh Kaplan; Ed. Maayanot, 2ª ed.,2003.

Estudos Linguísticos do Hebraico Bíblico: Prof. ª Gláucia Vilela.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Deus se arrepende?


Os sentimentos de D'us funcionam de forma diferente dos do homem.

Os sentimentos do homem são distorcidos pelo pecado, isto é, quando ele sente, pode agir de forma contrária do que está sentindo. Já os sentimentos de D'us são tão puros e genuínos que se aproximam da ação, ou melhor, quando Ele sente, já está agindo simultaneamente de acordo com aquele sentimento.
Então quando vemos na Bíblia que D'us lembrou de Noah no dilúvio (mas Ele esquece?), que descansou no sétimo dia (mas Ele fica cansado?), ou que se arrependeu de criar o homem, temos outra dinâmica. Quer dizer que está realizando UMA AÇÃO.
O homem, por causa da queda, pode desvincular o seu sentimento da ação, mas para D'us, por causa de Sua sublime Santidade que envolve também sublime sinceridade, todo sentimento é ação, movimento.

Isso nos dá um sinal do que é realmente santidade.
Quanto mais santo o homem for, mais as suas atitudes condizem com os seus sentimentos, sem dissimulação. Então quando D'us fala: "Sede santos, como Eu sou Santo." está dizendo também:
"Sede sinceros, como Eu sou sincero".

Enfim, quando D'us:

1.Descansou, verbo "shavat" em hebraico (Gênesis 2.2), Ele cessou o processo criativo.
2.Se lembrou de Noah (Gênesis 8.1) Ele "deu uma atenção especial a ele"naquele momento.
3.Quando derrama a sua ira, já está agindo para a destruição e quando abençoa já está atendendo às necessidades do justo.

A dificuldade de se entender o arrependimento de D'us é que existem dois textos que a princípio são contraditórios:

Gênesis 6.6: "D'us se arrependeu de ter feito o homem na terra."
וַיִּנָּחֶם יְהוָה, כִּי-עָשָׂה אֶת-הָאָדָם בָּאָרֶץ Números 23.19: "(D'us) não é humano para ser falso, nem mortal para que Ele se arrependa".
לֹא אִישׁ אֵל וִיכַזֵּב, וּבֶן-אָדָם וְיִתְנֶחָם
O problema dos textos acima está na tradução. Às vezes, o tradutor com o intuito de ajudar o entendimento, coloca um pouco de sua interpretação. Falaremos rapidamente sobre isso no próximo post, sobre as diferenças das traduções hebraicas das cristãs.
Mas sem a ajuda do hebraico podemos eliminar a dificuldade dos textos apenas com o CONTEXTO. Enquanto no texto de Gênesis 6.6 vemos um relato de fatos históricos de Israel pelo o autor do livro ( citado pelos judeus como Moisés), a frase do versículo de Números 23.19 foi dita por Balaão, uma pessoa altamente dissimulada, com altos e baixos de espiritualidade.
Balaão até desejou ser portador da palavra de D'us, mas titubeou várias vezes se deixando levar pela vaidade e pela ansiedade. A vaidade surgiu quando chegou a segunda comitiva de Barak, maior e mais honrada (Números 22.15). A irritação de D'us com Balaão em Números 22.22 se deve à sua ansiedade. No texto da Torá Viva anotada por Rabino Aryeh Kaplan:
"D'us manifestou irritação (porque Bil'am estava tão ansioso para ir) e um anjo de D'us plantou-se na estrada para se opor a ele."
Ao chegar até Barak, Balaão passou a misturar a mensagem de D'us com as suas próprias idéias, fazendo assim um jogo de palavras para agradar a todos.
Exegese dos textos:
Enquanto em Gênesis 6.6 vemos no hebraico um sujeito para uma ação, isto é, D'us (sujeito) se arrependeu (ação), em Números 23.19 não há sujeito.
O texto original é assim:
"O que D'us declarou?" perguntou Balak.
(Balaão)Proclamou o seu oráculo e disse: "Levanta, Balak, e ouve: presta bem atenção à minha visão, filho de Tsipor." Não é humano para que ele seja falso, nem mortal para se arrepender (ou mudar de pensamento)".
Ou seja, Balaão trabalhou com as palavras de tal forma que omitiu o sujeito para Balak subentender que ele estava falando de D'us. Na verdade ele teve muito medo de mencionar o Santo Nome divino porque teve uma mistura de sentimentos.
As nossas traduções mencionam o Nome de D'us onde não tem, porque é muito comum no texto hebraico bíblico o sujeito ser omitido, estando "escondido" no verbo.
O homem se arrepende de uma ação que cometeu no passado. O arrependimento de D'us já está concluído e paira na Eternidade, porque como já estudamos, Ele é Onipresente e vive simultaneamente no passado, presente e futuro. Em Gênesis 6.6 D'us mudou a sua atitute em relação ao Homem.
Portanto, enquanto no seu arrependimento o homem pode ou não mudar de atitude, o arrependimento de D'us é genuíno, mudando Ele definitivamente de uma ação para outra.

Obs: o verbo hebraico para "arrepender-se" inserido nos dois textos contraditórios (Gênesis 6.6 X Números 23.19) é o mesmo, a diferença está em quem está dizendo. No primeiro, o inspirado autor de Gênesis, no segundo, o dissimulado Balaão.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Pessach Casher ve-Sameach!

Hoje,15 de nissan, 29 de março de 2010, toda a nação judaica inicia à noite, o primeiro seder de Pessach, (do hebraico פסח, significa Passagem) cujos os preparativos já começaram no pôr do sol de ontem (após 18:25hs).
Domingo foi a tradicional limpeza da casa com a busca do Châmets (pães, biscoitos, macarrões, teoricamente tudo o que leva trigo, cevada, aveia, centeio e seus derivados e que foram deixados fermentados).
Durante os oito dias de Pessach somente se pode consumir matzá, que são pães sem fermentação.
A saída do Egito deveria ser tão apressada, que esperar a fermentação dos pães seria um embargo para os hebreus. Assim, o fermento em Pessach simboliza um atraso para a libertação da escravidão.
Pessach Casher ve-Sameach, uma feliz Passagem à recordação da libertação de Israel a todos,
e que sejam retirados os obstáculos à Santidade de nossas vidas!

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Judá e o pecado que matou Onan (conclusão)

sodahead.com
Após a venda de José aos mercadores, Judá resolveu se afastar, isolando-se em Adulam
(Gênesis 38).
Em Bereshit se começa a contar a saga de José no capítulo 37, tendo uma breve interrupção no capítulo 38, para se contar um fato da família de Judá, importante para a compreensão de todo o contexto da história de Israel.

Para onde Judá foi?
Adulão ou Adulam é uma cidade muito antiga, símbolo de fuga e refúgio (Miquéias 1.15) por causa de suas muitas cavernas nas colinas de pedra calcária, existentes nos subúrbios da povoação. Foi sede de um rei cananeu ferido por Josué (Josué 12. 7 e 15), após a conquista, tornou-se uma cidade da tribo de Judá (Josué 15. 21 e 35).

As cavernas de Adulam ficaram famosas após refugiarem o rei David, fugido de Saul (I Samuel 22.1-2), seus familiares e um exército de quatrocentos homens "amargurados de espírito".

Vários episódios no Tanach ocorreram em Adulão (II Samuel 23.13) que depois foi reforçada por Roboão, rei de Judá (II Crônicas 11.5, 7 e 11-12)), virando uma fortaleza com comandantes, armazens de comida, azeite, vinho e armamentos: "... e as fortificou grandemente." (v.12), protegendo e sendo sujeita a Judá e Benjamim.
Adulam após o cativeiro babilônico refugiou os judeus em seu retorno para Jerusalém (Neemias 11.1- 2 e 30).
Atualmente ainda há muitas cavernas nos montes de pedra calcária nessa área que agora
chama-se Aid-el-Ma. Fica a sudoeste de Jerusalém.

Judá "amargurado de espírito" pelo destino de José, afastou-se de seus irmãos carregando a candidatura à Primogenitura.

Ao conhecer a *filha de um "mercador" cananita, chamado Shua, casou-se com ela e teve três filhos. O erro de Judá de se casar com uma cananita foi corrigido pelo próprio D'us, que fez com que morresse o seu primogênito Er porque era mal (Gênesis 38.6), deixando viúva Tamar, noiva
íntegra -"seu nome era Tamar" Gênesis 38.6 -escolhida por Judá. O comportamento mortal de Er não foi especificamente mencionado no texto bíblico, mas temos algumas pistas:

1. Se Judá recebesse a Primogenitura de seu pai Jacó, se tornaria muito rico, e consequentemente, o seu primogênito Er, herdaria as riquezas de Israel;

2. Ao casar-se com uma mulher cananita, Judá desviaria as riquezas de Israel para um povo estranho, enfraquecendo a recém inaugurada nação;

3. Tamar não era estéril, e há razões para entendermos que a mulher de Judá influenciou Er a não ter filhos com ela por ganância, para que as riquezas de Israel ficasse com o seu povo; assim o próprio D'us tomou as providências de fazê-lo morrer,

4. A lei do dever de cunhado (Deuteronômio 25.5-6) foi aplicada no segundo filho de Judá, Onan, que teria que apenas fecundar Tamar numa única relação sexual, segundo a tradição da época, de forma fria e "regada à manteiga" para não ferir a honra do morto.

O pecado que matou Onan

Ocorreram várias relacões entre Tamar e Onan porque este secretamente deixava a sua semente cair na terra para evitar que ela tivesse um filho. Onan não queria ter filhos com Tamar pois teria consequentemente que dividir a herança de Judá por três**.

Se não houvesse um filho para Er, a herança seria dividida apenas entre ele e Selá, portanto, o pecado que matou Onan foi a cobiça por dinheiro e não o ato de derramar a sua semente na terra como muitos pregam.***


* o nome dela não é mencionado; há uma forte tradição no Talmud, que quando o nome de uma pessoa não é mencionado é porque não é de boa índole; de forma contrária, quando é usado na Bíblia o termo "por nome....", anuncia um indíviduo íntegro e bom; um exemplo, o parente próximo de Noemi, cuja ganância era tão grande, que não fez o resgate que lhe cabia, sendo o seu nome omitido: traduzido em algumas versões como"fulano" ,Rute4.1.

** Segundo algumas fontes judaicas (Tsava'at Yehudá 10.1; Yov'lot 41.1), a mulher de Judá
não queria que Onan tivesse filhos de Tamar.

*** muitas discussões sobre controle de natalidade e masturbação surgiram desse texto, mas o foco de Gênesis 38 não é esse; este capítulo destaca a preocupação de D'us em não permitir que o povo de Israel se casasse com mulheres cananitas; mais tarde, a própria mulher de Judá morreu, dando abertura à ação de Tamar para garantir genealogia e herança em Israel; dos gêmeos que ela teve, Perez foi o ancestral de David.
Prof.ª Gláucia Vilela
Fonte:
A Torá Viva; anotado por Rabino Aryeh Kaplan; Ed. Maayanot, 2ª ed.,2003Dicionário Bíblico -Editora Didática Paulista, SP.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Quem recebeu a Primogenitura de Israel: Judá ou José?

Em Gênesis 48.5 Jacó colocou Efraim e Manassés, filhos mais novo e mais velho de José, respectivamente, no lugar de Rúben e Simeão:

"Agora, pois, os teus dois filhos, que te nasceram na terra do Egito, antes que eu viesse a ti no Egito, são meus; Efraim e Manassés serão meus, como Rúben e Simeão."

E em I Crônicas 5.1-2, um Livro histórico, vemos:

"Quanto aos filhos de Rúben, o primogênito de Israel (porque ele era o primogênito, mas, porque profanara a cama de seu pai, deu-se a sua primogenitura aos filhos de José, filho de Israel; para assim não ser contado na genealogia da primogenitura. Porque Judá foi poderoso entre seus irmãos, e dele provém o príncipe; porém a primogenitura foi de José).

Enquanto José vivia com a sua família, havia a ameaça dele receber a Primogenitura pelas leis do mundo antigo, apesar de ser o mais novo:

"Um filho mais moço de uma primeira mulher e um mais velho de uma segunda mulher, podem dar lugar à dúvida sobre a maneira de se fazer a partilha." (artigo 539 do capítulo XX, do Nono livro de Manu)

Quando Jacó apresentou sinais de dar a José esse direito ao lhe presentear com a *túnica real (Gênesis 37.3), costumeiramente recebida pelo príncipe herdeiro, os seus demais ficaram furiosos:
"Então lhe disseram seus irmãos: Tu, pois deveras reinarás sobre nós? Tu deveras terás domínio
sobre nós? Por isso, tanto mais o aborreciam por seus sonhos e por suas palavras." Gênesis 37.8

Havia também no mundo antigo uma idéia cultural muito forte quanto ao filho mais velho:

Art. 525"Que o filho mais velho, quando o bem não é partilhado, tenha pelos seus jovens irmãos a afeição de um pai pelos seus filhos; estes devem, segundo a lei, se comportar para com ele como para com um pai."Art. 526. "O filho mais velho faz prosperar a família ou a destrói, segundo ele é, virtuoso ou perverso; o mais velho neste mundo é o mais respeitável; o mais velho não é tratado com desprezo pelas pessoas de bem."
art. 527 " o irmão mais velho que se conduz como um primogênito deve fazê-lo, é venerável como um pai ou uma mãe; se ele não se conduz como tal, deve ser respeitado como um presente." (Código de Manu, cap XX).
Vemos aqui um forte questionamento na família de Jacó sobre liderança: o mais velho ou o mais novo com o título de Primogênito?

O Primogênito podia comandar os seus irmãos na ausência do pai, quando este estivesse muito velho ou incapaz. Assim, naturalmente, o Primogênito já assumia os negócios da família e as responsabilidades do patriarca ainda com o pai vivo se fosse virtuoso e de moral inquestionável. A questão de moralidade e liderança entre irmãos mais velhos eram tão respeitada que na conspiração contra José, houve uma hierarquia de ordens entre Rúben e Judá para decidir o que fazer com ele (em Gênesis 37.22-23 acataram a decisão de Rúben de não matar José e jogá-lo dentro do poço; em Gênesis 37.26, na aparente ausência de Rúben, acataram a decisão de Judá em vendê-lo para mercadores midianitas). De acordo com a tradição talmúdica, Simeão e Levi foram os principais conspiradores.

Em Gênesis 42.37 Rúben argumenta com Jacó sobre levar Benjamim para o Egito em busca de comida, e em Gênesis 42.3, Judá é quem argumenta com Jacó.
Assim, após a queda moral de Rúben e o desaparecimento de José, Judá naturalmente foi assumindo a liderança dentre os irmãos, sendo que na migração de toda a família para o Egito por causa da crise mundial, a sua Primogenitura já estava consolidada.

Além de tomar conta das posses e liderar a família, o Primogênito tinha por obrigação preparar o cortejo fúnebre e honrar o patriarca no seu enterro.
Ao terminar a sua vida no Egito após o reencontro, Jacó teve que realizar um "acordo diplomático" de herança entre José, já escolhido no episódio da manta real e o seu sucessor na liderança da família, Judá(Gênesis 46.28).
José recebeu a Primogenitura oficial porque tornou-se responsável pelo sustento de toda a família(Gênesis 47.12) e pelo enterro de Jacó fora do Egito (Gênesis 47.30).

Mas Judá recebeu a Primogenitura espiritual com uma benção de liderança sobre os seus irmãos e as tribos de Israel (Gênesis49.8), confirmada por Assaf em Salmos 78:

וַיִּמְאַס בְּאֹהֶל יוֹסֵף

וּבְשֵׁבֶט אֶפְרַיִם לֹא בָחָר

וַיִּבְחַר אֶת-שֵׁבֶט יְהוּדָה אֶת-הַר צִיּוֹן אֲשֶׁר אָהֵב


"Ele desprezou a tenda de José, a tribo de Efraim Ele não escolheu. Mas escolheu a tribo de Judá, o monte Sion que ele ama." v.67-68

Observações no texto hebraico:
Judá pode ter se tornado juiz em Israel ( Gênesis 49.10 "a legislação", no hebraico"me-chokek", tem conotação tanto de lei quanto de escrita, daí alguns traduzem como "pena de um escriba" ou "a pena da lei escrita". Ele pode ter sido o responsável em registrar e lavrar a Primogenitura de José). Judá pode também ter influenciado o patriarca a evitar incluir o seu nome no livro da contagem da genealogia de Primogenitura porque o seu primogênito, Er, havia morrido, podendo haver questionamentos sobre os gêmeos que teve com Tamar. Também não tinha condições financeiras de patrocinar a viagem de cortejo fúnebre do pai, obrigação de um primogênito.

* Túnica colorida, em hebraico "ketonet passim", era uma vestimenta real, IISamuel 13.18;
a palavra"passim" pode ser traduzida para "colorida","bordada","com figuras" ou "em faixas". Alternativamente, a palavra denota o material do qual o manto era feito, que era de lã fina ou seda, daí "ketonet passim" pode ser traduzido como "um manto de amplas mangas","um traje de muitas cores", "um traje até os pés", "uma túnica ornamentada", "um manto de seda", ou " um traje de lã fina".

Prof.ª Gláucia Vilela
Bibliografia:
A Torá Viva - O Pentateuco e as Haftarot - Anotado por Rabino Aryeh Kaplan- Editora Maayanot;
DTehilim - Salmos Tradutores: Adolph Wasserman & Chaim Szwertszarf; McKlausen Editora; RJ.
Dicionário Português Hebraico e Hebraico Português - Abraham Hatzamri e Shoshana More-Hatzamri - ed. Sêfer

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Como a Serpente engana o Homem? (Gênesis 3.15)

my.opera.com/.../archive/monthly/?day=20090901 A imagem não é de Eva, é sim de Lilith, uma personagem do folclore popular hebreu medieval associada à Serpente.
No contexto a situação era a seguinte: a Serpente ( do hebraico"nahash") é apresentada como
o mais astuto ( " 'arus", ou esperto) dos animais do campo, e usa de argumentos numa conversa com a mulher com o objetivo de desorganizar a relação do Criador com o Homem.

Os judeus associam a palavra astuto ("'arus") à palavra grega "eros" ( de "erótico"ou "nudez"), já que muitas palavras gregas são de origem semita.
Isso quer dizer que a Serpente, sendo astuta, induz à nudez. Ela faz com que o Homem cometa o erro e que as consequências do mesmo fiquem bem visíveis, tornando-o envergonhado e "nu".

Após consumada a desobediência, a Serpente recebeu outra característica no seu castigo: passa a rastejar. (Gênesis 3.14). Essa é a pista importante para a interpretação do versículo seguinte, que no hebraico está nessa disposição:

וְאֵיבָה אָשִׁית

"E ódio plantarei

בֵּינְךָ וּבֵין הָאִשָּׁה

entre tu (você masculino) e entre a mulher

וּבֵין זַרְעֲךָ

e entre a sua semente ( "zerá" pode ser também: descendente, sêmen, filho)

וּבֵין זַרְעָהּ

e entre a semente dela

הוּא יְשׁוּפְךָ רֹאשׁ

Ele pisará a sua cabeça

וְאַתָּה תְּשׁוּפֶנּוּ עָקֵב

e tu (você) golpearás o seu calcanhar.


Na rivalidade o verbo tanto usado para "Ele" e "tu" é o mesmo: "shuf", que pode ser traduzido como "pisar, atacar, limar,friccionar,raspar." O radical é parecido com "shofet", juiz, árbitro.
Um atacaria a cabeça e o outro o calcanhar do inimigo.

Quem é "Ele"? Entendemos que somente um Ser Divino seria capaz de esmagar totalmente a influência da mente astuta e maligna de uma Serpente, pisando-a num golpe mortal.

Com relação à palavra "calcanhar" do hebraico "'akev", muito nos lembra a história de "Yakov",
ou Jacó, que recebeu esse nome porque nasceu segurando o calcanhar de seu irmão Esaú. (Gênesis 25.26). A palavra "'akev" também pode ser traduzida como "passos". Jacó veio atrás dos passos de Esaú com astúcia, garantindo confusão e benefícios da Primogenitura para si.

Para o caso da Serpente, a melhor tradução do verbo para a sua ação seria "limar, friccinar, raspar" os "passos" (e não o calcanhar) do Messias.

Assim, o castigo de Gênesis 3.15 não estaria direcionado a uma ferida direta no Descendente da mulher e sim uma deturpação de Seus passos pelo rastejar da Serpente, atrapalhando o Homem de encontrar a Salvação seguindo-O.


Proposta de tradução:
"Ele pisará a sua cabeça, e tu rasparás os seus passos."
Bibliografia:
A Torá Viva - O Pentateuco e as Haftarot - Anotado por Rabino Aryeh Kaplan- Editora Maayanot;
Dicionário Português Hebraico e Hebraico Português - Abraham Hatzamri e Shoshana More-Hatzamri - ed. Sêfer


Prof.ª Gláucia Vilela

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Judá e o pecado que matou Onan - Gênesis 38.9-10 - Parte I

Mais um texto que deve ser interpretado com a ajuda de conceitos jurídicos que regiam a época dos Patriarcas.

Judá, pai de Onan, era o quarto dos doze filhos homens que Jacó teve. Lia, sua mãe, havia concebido antes, três meninos: Rúben, Simeão, Levi.

O direito à Primogenitura pertencia a Rúben se ele fosse "iminentemente virtuoso" para tomar posse do rico patrimônio de Israel em sua totalidade ( artigo 522, do capítulo XX, do Livro Nono do Código de Manu).


O pecado que fez Rúben perder o direito à Primogenitura (Gênesis 35.22)

Segundo a tradição Talmúdica, após a morte de sua amada Raquel, Jacó colocou sua cama na tenda da serva Bilá. Rúben então removeu-a para a tenda de sua mãe, Lia. Entende-se também que Rúben deitou-se com Bilá, profanando-a e impedindo que Jacó se aproximasse novamente da serva de Raquel. De qualquer forma, essa discussão familiar foi grave a tal ponto de fazê-lo perder os seus direitos de filho mais velho, oficialmente em Gênesis 49.3-4:

"Rúben, tu és meu primogênito, minha força e o início da minha maturidade, primeiro em distinção e primeiro em força. Mas porque tu foste instável como água, tu não serás mais o primeiro. Isso porque tu mudaste as camas de teu pai, cometendo um ato profano. Ele mudou minha cama!"

Simeão e Levi também perderam o direito à Primogenitura:

Segundo e terceiro filhos respectivamente, também perderam o direito à Primogenitura em Gênesis 34 matando covardemente os varões da cidade de Siquém em defesa da honra de sua irmã desflorada, Diná:

"Simeão e Levi são um par (irmãos); instrumentos de crime são suas armas. Que minha alma não entre na trama deles; que meu espírito não se una com a assembléia deles - pois mataram homens com raiva, desmembraram bois com vontade. Maldita seja a cólera deles, pois ela é feroz, e sua fúria, pois ela é cruel. Eu os dispersarei em Jacó, os espalharei em Israel."(Gênesis 49.5-7)

Judá, o quarto filho de Israel, recebeu o direito da Primogenitura, passando a comandar os patrimônios da família, sendo também o participante na sucessão divina da genealogia do Messias:

"Judá, teus irmãos se submeterão a ti. Tua mão estará sobre o pescoço de teus inimigos; os filhos de teu pai se inclinarão a ti. Jovem leão, Judá, tu te ergueste da presa, meu flho. Ele se agacha, deita como um leão, como um temível leão, quem ousará erguê-lo?

O cetro não se afastará de Judá, nem a legislação de seus descendentes."

Quando Jacó proferiu a "benção da herança" antes de sua morte, todos estavam no Egito, em dificuldades financeiras por conta da seca e aos cuidados de José (Gênesis 47.28). Mas Judá,
extra oficialmente já havia recebido o prêmio de Primogênito.

Assim, ao se distanciar da confusão com seus *irmãos após a venda de José ao Egito, e se casar com a filha de um mercador cananeu (Gênesis 38.1) , Judá já era considerado um Príncipe, o verdadeiro herdeiro de Israel.


(continua)
* tramavam a morte de José porque percebiam juridicamente a possibilidade de transferência do direito à Primogenitura para ele, filho mais velho de Raquel, já que os filhos mais velhos de Lia não estavam aptos; a manta dada por Jacó e os sonhos de José reforçaram essa teoria.
link sobre Primogenitura:
Países que ainda adotam a Lei Primogenitura:

"Primogenitura (ou mais apropriadamente primogenitura masculina) é um mecanismo através do qual os descendentes do sexo masculino de um soberano têm precedência sobre descendentes do sexo feminino, e onde as linhagens mais antigas têm precedência sobre as mais jovens, em cada género. Os filhos mais velhos têm sempre precedência sobre os filhos mais novos. Os filhos mais jovens têm sempre precedência sobre as filhas mais velhas. O direito das sucessões pertence sempre ao filho mais velho do soberano reinante (ver herdeiro aparente), e, depois, para o filho mais velho do filho mais velho. Este é o sistema utilizado no Reino Unido, Espanha e Mónaco.
Outros membros com títulos nobiliárquicos seguem esse sistema de filhos e filhas, mas são considerados iguais como co-herdeiros, pelo menos na prática na Bretanha moderna. Isto pode resultar na condição conhecida como suspenso. No período medieval, a prática efectiva variava consoante os locais e costumes. Embora as mulheres pudessem herdar casas senhoriais, esse poder era geralmente exercido pelos seus maridos (jure uxoris) ou pelos seus filhos (jure matris).

Primogenitura absoluta ou igualitária
A primogenitura igualitária (ou primogenitura absoluta) é uma lei em que o filho mais velho do soberano sucede ao trono, independentemente do sexo, e onde mulheres (e seus descendentes) gozam dos mesmos direitos de sucessão como do sexo masculino. Este é actualmente o sistema na Suécia (desde 1980), Países Baixos (desde 1983), Noruega (desde 1990) e Bélgica (desde 1991). Foi proposto mudar a linha de sucessão ao trono britânico para a primogenitura absoluta em 2004.
Prof.ª Gláucia Vilela